domingo, 1 de março de 2009

TRÓIA

O problema da mensagem filosófica de Tróia, não está naquilo que a Ilíada de Homero nos deixou como herança cultural e histórica, mas do abandono deliberado do núcleo da narrativa original feita pelos roteiristas do filme, construindo uma versão secularizada da guerra entre aqueus e troianos, ao não pôr em cena as tramas e ações dos deuses olímpicos. Quem ler o clássico de Homero perceberá que por trás dos guerreiros dos dois lados, os deuses sempre tentam manipulá-los por meio de truques e ardis os mais diversos. No entanto, a guerra descrita no filme, mostra-nos simplesmente uma mera desavença ou conflito entre homens, o que perde em profundidade e dramaticidade, e o seu sentido filosófico original, retirando assim a influência dos deuses e colocando o destino humano nas mãos dos próprios seres mortais. O resultado apresentado no filme é a exposição de uma violência ainda mais brutal e arbitrária do que aquela representada em Homero, bem como a grande quantidade de sangue que brota da espada de um Aquiles hollywoodiano e também a redução significativa do peso de Heitor, que na Ilíada é, de fato, o maior dos heróis, em meio aos melhores entre os seres humanos. Apresentando-nos uma visão distorcida da obra de Homero, dificilmente a guerra narrada e mostrada nesse filme conseguirá levar os jovens espectadores a se interessarem pela Grécia antiga ou pela narrativa homérica e muito menos por filosofia. Quando muito há o interesse em apenas em mais um filme de luta, fazendo o absurdo com que os heróis dos tempos antigos demonstrem seus conhecimentos de artes marciais, próprias dos filmes de Jet Li e da maioria dos filmes do gênero. Mas apesar de toda esta distorção, o filme acaba sim passando uma mensagem filosófica e que é positiva, a meu ver. Porque retirando o peso da fidelidade com a Ilíada de Homero e as reflexões filosóficas sobre a influência dos deuses no destino do homem, percebemos que este “abandono literário” é o responsável para ressaltar que este mesmo homem nunca pôde e nunca quis caminhar sozinho em sua história. Porque sozinho e sem as influências dos deuses o homem não pode culpá-los por seus erros, seu egoísmo, sua auto-suficiência, mesquinharia, maldade e todas as fraquezas naturais do ser humano que faz com que este mesmo homem seja afinal, o senhor de sua história. Porém, fica claro que este homem sendo o senhor e autor de sua história ele se esgota no sentido de que ele não tem poder para tanto, ele não se basta, e afinal, ele precisa de deuses para “comandar” a sua vida. E desta forma podemos enxergar a mensagem filosófica do filme dizendo-nos claramente que: nós não somos tão grandes quanto pensamos; que somos mortais; que temos que ser responsáveis pelos nossos erros; que existe a “lei de causa e efeito” e que temos que “domar” a nossa soberba, caso contrário, ela própria será a nossa ruína. E, sobretudo, que precisamos sim, de um deus (Deus) a nos comandar, seja qual for a idéia que façamos dele. LEGENDADO EM PORTUGUÊS.

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